Congada Nossa Senhora do Rosário
Congada Nossa Senhora do Rosário
Publicado em 02/06/2010 17:00 - Atualizado em 12/07/2010 11:04
Congada Nossa Senhora do Rosário
O Congado é a representação da Fé, mantendo vivas as tradições africanas em Minas Gerais. Organizados em Irmandades, Confrarias e Ordem Terceiras, os diversos grupos étnicos, classes sociais e categorias profissionais se organizavam em torno de Irmandades específicas, sob a Fé em um ou outro santo padroeiro. Os negros escravos e forros compunham as Irmandades de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, ou as de santos negros, como Santa Efigênia e São Benedito.
Nas Confrarias e Irmandades da Igreja Católica, era permitido aos negros incluir, nas celebrações de devoção à Nossa Senhora do Rosário e aos santos pretos, certos rituais africanos como a Coroação de Reis e Rainhas, além de poderem fazer uso de seus instrumentos de percussão na execução de suas músicas e danças. Os rituais africanos de eleição de Reis e Rainhas foram comuns em todo o Brasil, tendo ocorrido também em outros países da América e em Portugal. No Brasil , a coroação de Reis de Congo já era realizada na Igreja Nossa Senhora do Rosário, no Recife(PE), em 1674. O registro mais antigo da ocorrência da história do Congado em Minas Gerais data de 1711. Vinculada às origens do Congado em Minas, há também a história de Chico Rei, antigo Rei Africano que teria vindo como escravo para Vila Rica (atual Ouro Preto), no século XVIII. Reis e Rainhas Congos ainda hoje são presenças de máxima importância nos rituais do Reinado de Nossa Senhora do Rosário. Eles representam tanto as nações africanas quanto os Reinados Sagrados. Como mantenedores de uma tradição oral, os Congadeiros repassam seus conhecimentos aos mais jovens, que assim, recebem o Patrimônio Cultural dos antepassados. Acompanhando as Guardas de Congo e Moçambique, as crianças ouvem e aprendem a linguagem dos cantos. Ao dançar, ao ritmo dos mais velhos, sabem que estão aprendendo a lição dos ancestrais.
Em Minas Gerais , existem cerca de três mil Guardas de Congado registradas na Federação Mineira de Congadeiros. Em Ubá, os congadeiros acreditam que esta centenária manifestação da cultura popular tenha chegado antes da Abolição da Escravatura (em 1888).
A banda de Congado Nossa Senhora do Rosário desfila pelas ruas de nossa cidade, respeitando uma estrutura de muitos anos. Primeiro surgem os Congadeiros com a Comissão de Frente, trazendo nas mãos uma faixa ou um cartaz. Em seguida, a Bandeira de N. S. do Rosário. Há vários anos este estandarte, considerado um elemento SAGRADO, vem sendo conduzido pela Dona Terezinha de Jesus (atualmente com seus 79 anos). Dois pares de Corta Ventos chegam, em seguida, com suas espadas, dançando e cortando o que acreditam ser as "energias negativas". Os Corta Ventos sempre vêm acompanhados dos Dançantes com seus instrumentos musicais: cavaquinho, violão, chocalho e reco-reco.
Simbolizando os ilustres da Corte, surgem o REI CONGO, o Sr. José Raimundo Soares Neto (de 74 anos) - conhecido na entidade como "Mestre Zinho" ; a Rainha Perpétua , dos Congados de Ubá, Sra. Regina Penha Silva Nascimento; e o Rei do Meio, Sr. João Adão Brum. Na Festa do dia 13 de Maio - considerada pelos congadeiros como a "Festa da Libertação" (dos Escravos no Brasil), também desfila a Princesa Isabel , acompanhada por damas e vassalos. A Juíza dos Congados de Ubá, dona Carmelita, há vários anos carrega pelas ruas da cidade a Coroa que pertenceu ao Mestre Adão Quintão, ex-Rei Congo por vários anos (falecido em 1959). No canto de lamento ou de alegria, no bailado das danças, no toque dos instrumentos musicais e na expressão facial, os Congadeiros de hoje reverenciam a memória dos antepassados. E dão Vivas ao Tio Miguel , negro congadeiro que veio lá da Bahia. Dão Vivas ao Mestre Adão Quintão; Vivas à Rainha Benvinda; Vivas à Vó das DÔ e à tantos outros congadeiros que já foram para a morada celestial.
Mantendo viva uma tradição centenária de nossa cultura popular, os congadeiros saem do anonimado do dia-a-dia e se tornam Reis, Rainhas, Príncipes e Princesas na corte da Sociedade Ubaense dos Congados Nossa Senhora do Rosário. (texto extraído do roteiro do documentário "Congado N. S. do Rosário - Patrimônio Cultural Imaterial do Município de Ubá" , elaborado pelos conselheiros Anderson Moreira Vieira e Levindo Ferreira Barros.)
Congados de Ubá: A Sociedade Ubaense de Congados Nossa Senhora do Rosário é uma sociedade civil, fundada em 07 de outubro de 1975 , com a seguinte finalidade: cultuar entre seus associados a devoção em Nossa Senhora do Rosário, São Benedito e Santa Efigênia; promover por todos os meios ao seu alcance a realização dos festejos de Nossa Senhora do Rosário; difundir a cultura afro-brasileira com sua história e costumes, mediante participações em programas folclóricos e culturais; desenvolver campanhas de assistência social à população carente residente nas imediações de sua sede administrativa (Rua Adão Quintão, no 26 ? bairro da Luz/Agroceres). De acordo com o art. 36 de seu Estatuto, tem por insígnia uma Bandeira Azul e Branca com a pintura de Nossa Senhora do Rosário, contendo ainda o nome da Sociedade escrita por extenso. (Nota: a atual bandeira da entidade é uma criação da artista plástica ubaense Marcini Moura Jorge). Entre as principais datas festivas que a entidade dos Congados de Ubá participa destacam-se: Festa de São Jorge (23 de abril); Festa da Libertação dos Escravos (13 de maio); e Festa da Padroeira da entidade e Padroeira do Município, Nossa Senhora do Rosário (em 07 de outubro).
Patrimônio Imaterial: O Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural de Ubá elaborou um trabalho de pesquisa sobre a mais antiga entidade cultural viva de nosso município (no período de 2000 a 2006) e deliberou pelo registro da BANDA DE CONGADA DE UBÁ, da Sociedade Ubaense de Congados Nossa Senhora do Rosário como "Patrimônio Imaterial do Município de Ubá", reconhecendo-se-lhe a grande importância para a cultura do povo ubaense e assegulhando-se-lhe a proteção especial, o incentivo e o apoio por parte do Poder Público. A Deliberação do Conselho do Patrimônio foi homologada pelo Prefeito Dirceu dos Santos Ribeiro por intermédio do Decreto 4.515, de 03 de julho de 2006, data do 149o aniversário do Município.
por Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural